Mauro Loch

Ruim pra quem perde

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Ninguém gosta de perder, ainda mais para o rival, e ainda mais quando o rival pouco mostra além de jogada individual e cruzamentos. Isso não melhora nossa situação, mas é preciso saber qual a nossa situação.

Depois de muitos anos, o Inter passa pela tão sonhada reformulação, que iniciou ano passado com a saída de D’Alessandro e com a tentativa de Coudet. Segue com Ramirez, depois de uma pausa com Abel. Este ano, ao que parece, a diretoria está com mais convicção sobre a necessidade de mudança do que em anos anteriores, e algumas coisas bem nítidas estão sendo feitas.

A base sofre alterações que nos darão frutos somente no futuro, como já chegou dizendo o novo coordenador, o argentino que veio do River, e, parece, se deparou com 43 atletas no sub-20, já tratando de reduzir o grupo, e, assim, os gastos, e, assim, o ganho de empresários.

Mas o que interessa é o time titular no momento, e a guerra da imprensa contra Ramirez, destacando frases e aproveitando do desconhecimento da língua para oferecer pérolas que o prejudicam. A imprensa especializada, isenta, longe da aldeia, elogia a tentativa.

A imprensa da aldeia, se contradiz. Aqui é bordão dizer que um time se começa a organizar pela defesa, e assim tem sido. O Inter não tem sofrido gols posicionado, salvo um ou outro erro individual. E a defesa aprendeu a sair jogando. Temos mais gente no ataque, mais gente na área na maioria das vezes, e temos jogado no campo do adversário. São evoluções, mas precisamos mais.

O grenal mostrou que o Inter sabe controlar a bola e o jogo, mas está com muita dificuldade na quantidade de finalizações. Embora o rival só tenha chutado uma bola antes do gol, é o número de finalizações do Inter que preocupa, por ter mais a bola, por precisar saber o que fazer com ela.

Não falo dos giros, isso é do esquema, e isso é normal contra times que apostam só no contra-ataque. Tenta de um lado, tenta de outro, até acertar a movimentação e achar um furo. Contra times organizados, isso não será fácil, precisa de paciência.

Porém, requer uma coisa que ainda não temos, a velocidade, seja no ataque, seja na recomposição defensiva. Passa muito por trocar nomes. Não teremos velocidade com Dourado, não teremos velocidade com Zé Gabriel, mas Lucas mostrou mais velocidade do que eu esperava, e a inteligência que Rodinei não mostrou ao marcar Ferreira.

Moisés é um problema porque não consegue usar a perna direita para nenhum passe. Não lembro de nenhum, e usar os dois pés para passar, ao menos, quanto mais para o cruzamento. O pé direito de Moisés sequer é vigiado pelo marcador. Isso é trabalho de base, não será corrigido.

O mesmo acontece com Dourado, com imensa dificuldade de virar o jogo. Essa lentidão, além da falta de velocidade, contribui muito para que o time não seja rápido na troca de passes e busca por espaços. Novamente, não será suprida a deficiência, e a solução é a troca. E nem entro na questão anímica.

Nos dois últimos jogos, precisando de resultado, só fizemos gol com a saída de Edenílson, que foi destaque no ano passado. Parece ser jogador que não se adaptou ao esquema, e, considerando o comportamento de anos anteriores, vai chantagear o clube na primeira oferta que receber. Por isso insisto que o time precisa aprender a jogar sem ele, e parece que está no caminho.

A novidade foi Palácios pelo meio, sem ser agudo, e ainda distante de um jogador que queremos e precisamos, mas mostra uma versatilidade que ainda não tínhamos visto. Nosso problema de finalização não pode ser creditado somente aos atacantes, principalmente contra times que usam da retranca como arma para especular contra-ataques.

Nisso Nonato também não desponta muito. Acho imperdoável não saber fazer falta. Perdemos uma libertadores fácil por não derrubarmos Martinuccio na hora certa, e ontem levamos gol porque Nonato não conseguiu fazer uma falta fácil, em um minuto de jogo que sequer deveria existir na conta do árbitro. Mas Nonato tem melhorado, só não é o jogador criativo que precisamos.

Yuri jogou pouco tempo, e Galhardo precisa agregar algo mais a sua inteligência. O time melhorou com a saída de Edenílson e com a inserção de um ponta como lateral e atacante, mas Caio Vidal precisa um pouco mais de aprimoramento na conclusão da jogada, e isso ele ainda tem tempo para melhorar.

O que não é aceitável, ainda, é ter Lomba como goleiro. Fosse Daniel com esse número de falhas, seria execrado, até por ser da base e a torcida não ter paciência com essa origem. Mas Lomba não falha apenas nos gols. Ontem, quase entrega o jogo em uma saída atabalhoada, e em outra indecisão com Zé Gabriel. Em todos os jogos têm falhado, hesitado, errado saídas fáceis de bola, além de não saber fazer reposição de bola com as mãos. Lomba tem deficiências, sempre teve, mas estão sendo potencializadas no novo esquema. Antes, porque os outros times finalizavam mais, aparecia. Agora, só nas saídas por baixo, mas aí tomar gol é mais natural, e mantemos um goleiro que falha muito e faz algumas grandes defesas. É pouco para nossas ambições.

Ramirez mostrou uma cara corajosa, embora claramente ainda precise de peças para seu jogo, mas também precisa se livrar de algumas peças que atravancam o seu jogo, e o estilo que quer implementar. Se começar a adaptar seu jogo apenas para ganhar do rival, o que muitos querem, fugirá do compromisso e abandonará o plano.

Não podemos esquecer que gauchão é sempre pior pra quem perde, mas a derrota é um bom momento para dizer que algumas coisas não estão funcionando, e cobrar da diretoria que faça seu trabalho, principalmente na montagem de um elenco que atenda melhor o planejamento estratégico do treinador. Só não dá pra inventar crise.

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