SPRINT FINAL
Em 1984, acho, Joaquim Cruz foi medalha de ouro nas olimpíadas, nos 800 metros, uma das provas mais nobres entre as médias distâncias. Venceu ninguém menos que Sebastian Coe, ou Sir Sebastian Coe, um dos mais famosos fundistas do mundo, grande vencedor antes dos africanos tomarem conta das modalidades.
Sebastian Coe, em outras provas, liderava desde o início, impunha um ritmo alucinante, e ninguém o segurava.
Nesta prova, Joaquim Cruz apenas se mantém no pelotão de frente, na maior parte, em segundo colocado, para, lá pelos duzentos metros finais, dar o sprint final e vencer a prova, com Sebastian Coe em segundo.
O Inter está no momento do sprint final, nos últimos metros da corrida de regularidade que é o campeonato brasileiro.
Guardiola diz que campeonatos de pontos corridos se vence nas últimas oito rodadas. Para isso, claro, é necessário estar no pelotão de cima, perto de quem puxa a fila, talvez nem tão perto, mas o suficiente.
E não dá pra vacilar no sprint final. O Flamengo, por parte de um analista, acho que Kfouri, foi agraciado com o mesmo pensamento, uma arrancada nos últimos oito jogos, o que não aconteceu. Antes de domingo, apenas Flamengo e Inter dependiam de si mesmos para ser campeão, agora só o Inter, que começou a ultrapassagem exatamente nos últimos oito jogos do campeonato.
Mas não pode parar, ficar satisfeito com a quebra do jejum em grenais ou por ter afastado o rival do título e provocado a maior choradeira do ano contra a arbitragem. Nós, a duras penas, aprendemos que falar mal da arbitragem, mesmo com apoio de parte da imprensa, não apenas não ajuda, como atrapalha muito. Espero que se repita.
Também não gosto da alcunha de novo grenal do século. A sequência daquele grenal não foi boa.
Embora a partida tenha tido variantes épicas, como estar perdendo até os 42 minutos do segundo tempo, e proporcionado uma virada inacreditável, Abel já foi inteligente o suficiente para reduzir a vitória aos três pontos necessários para o título, da mesma forma como minimizou a exuberância dos 5×1 contra o SP.
Tudo que Abel não tem em termos táticos, tem em gestão de grupo, em tirar leite de pedra, em mobilizar jogadores que há pouco tempo viraram as costas para um adversário ao ser driblado e fazer com que atravesse o campo correndo pela última garrafa de água do Saara aos 45 minutos do segundo tempo, vencendo por 5×1.
Não quer dizer que Abel não entende de tática, sabe fazer o feijão-com-arroz como poucos, fechou as melhores jogadas do rival, e fez com que Lomba tocasse na bola somente aos 10 do segundo tempo. Nisso, Dourado tem todos os méritos de comandar o time em campo.
Abel perdeu seu diferencial com a saída de Caio Vidal, jogador que espeta o time e oferece perigo no mano-a-mano. Peglow não é esse jogador, é muito melhor jogando pelo meio, pela esquerda, no lugar que, queimando minha língua e dedos, é de Patrick. E não temos outro que faça o mesmo que Caio Vidal, já que a correria de MG nunca é contra o adversário.
Mas Peglow cumpriu a função como o resto do time, até que saiu e o time sentiu, deixando o rival crescer. Ainda assim, pouco criaram, enquanto Yuri perdia gol e Praxedes chutava; como é bom ter um jogador que chuta no elenco.
O gol adversário veio em falha grave do jovem Lucas Ribeiro, que tem a sorte de não ser da base e de suas falhas nos dois jogos terem sido solapadas por retumbantes vitórias. De qualquer forma, um alerta para a necessidade de atenção constante é vital.
No gol, a certeza de que o boi tinha ido com as cordas, mas é sintomático que o time não tenha se abatido em outros jogos tomando gol, ou quase, e fomos para cima no melhor estilo Abel Braga, fazendo um gol com o desacreditado homônimo, e virando em pênalti só discutível para um zagueiro que nunca teve braços, convertido pelo renascido Edenílson.
Reafirmo que grenal se ganha jogando. O Inter foi melhor na maior parte do tempo e arriscou vencer jogando. O empate era bom resultado considerando a rodada, mas futebol só acaba no último apito, e venceu quem mais quis ganhar no campo, não nas mídias sociais. Aliás, cuidado com as mídias que já nos colocam como campeões, armadilha que nossos jogadores não podem cair.
Agora a tarefa mais árdua do sprint final é manter o ritmo. Pouco crível que engatemos vitórias em todos os próximos jogos, mas considero o próximo tão essencial como o grenal, para reafirmar a campanha e meter mais medo nos adversários. Falta pouco, mas esse pouco é muito!!