La suerte
Na coletiva pós jogo, Abel Braga referiu que o Inter mereceu melhor sorte na partida de ontem, na talvez afirmativa mais lúcida que dera desde que resolveu deixar sua aposentadoria para assumir a barca. De fato, o Internacional mereceu melhor sorte, ontem, eis que fez uma das melhores partidas dos últimos meses (não só com o atual treinador).
É bem verdade que parece que a sorte acompanha os vencedores. Mística, talvez; afinal, o sucesso na maciça maioria das vezes depende de variáveis concretas. Só que no futebol quem ganha também está de mãos dadas com a sorte. Lembram daquela bola na trave e depois nas costas do Clemer que não entrou contra o Libertad em 2006? Pois é. Ontem, entraria.
O problema na realidade não é a sorte ou a falta dela, mas quem impõe a esta variável o resultado dos seus fracassos. Ora vejamos.
Não há sorte que resista a Marcelo Lomba, o perdedor de Deus, no gol. Inaugurou, após outras tantas, a mística de tomar frango em pênalti. Ou a Rodinei na lateral direita (em que pese, justiça seja feita, tenha feito talvez a sua melhor partida com a camisa alvi-rubra). Ou a Rodrigo Lindoso de titular, que embora até não tenha feito má partida, sepultou o time quando ele mais precisava da sobrevida (não culpem Peglow, afinal, sequer era para ele ter batido se o coveiro não tivesse perdido) Ou com Patrick sendo o craque do time. Enfim, é fácil fazer terra arrasada após mais uma eliminação, podendo parecer oportunismo meu ao tripudiar do sofrimento do torcedor e da má sorte do Internacional.
Mas, eu posso ter um milhão de defeitos (incontáveis, admito), menos o de ser oportunista.
Não existe má sorte quando se gasta o que tem e o que não tem para sair da série B, contratando jogadores a peso de ouro, como Uendel, sem ganhar a competição (jogando mal – convenhamos); ou nos anos seguintes, com Natanael, Dudu (5 anos de contrato) e tantos outros, para perder uma decisão de Copa do Brasil com 70 ou 100 mil Colorados no Beira Rio e entorno; ou para brincar de contratar treinador (Zago, Guto, Zé Ricardo). Não existe má sorte que seja capaz de esconder a incompetência ou o ego do dirigente malogrado que faz do Clube sua última chance de ser algo ou alguém. “No ecziste”, como diria o padre Quevedo.
Só que de fato, o Internacional mereceu melhor sorte, ontem, eis que fez uma das melhores partidas dos últimos meses. Mas perdeu nos pênaltis, que não é sinônimo de loteria, mas de competência. Só que a sorte não premia os incompetentes. Só que a sorte não dá chance para o azar: o azar do clube e do time serem dirigidos por incompetentes. A sorte é implacável, vejam bem. Vai ver a sorte no jogo do Internacional é saber perder. E como fazes bem, impressionante!
E por falar em sorte e azar, o Internacional inaugurou mais uma perspectiva para seu torcedor apaixonado: azar no jogo e no amor também.
Mas sigo Colorado, e daí… azar!