A base
Sempre que algo não corre bem, ou algum jogador não dá o retorno esperado, levantam-se as atenções (e as esperanças) para a base.
Este fato vem a tona principalmente quando se vê contratações de nível técnico questionável, por quantias avultadas ou ainda pomposos salários: “será que na base não havia jogador melhor (ou ao menos do mesmo nível)?
Investir na base, obviamente, significa economias financeiras, vitrine para atletas que podem ser negociados (e assim oxigenar o fluxo de caixa) e ainda dar oportunidade para atletas promissores, com a necessidade perene de afirmação e conquista de espaço, e portanto desejosos por mostrar resultado imediato.
Sem contar com o fato de que, em muitas vezes, tais jovens já terem uma identificação com o clube que é impossível reproduzir a curto prazo em um atleta contratado.
É necessário uma política de transição de promissores atletas ao elenco principal, de forma a lapidar as características e qualidades de atletas que muitas vezes ainda estão em formação, mas que sem o devido estímulo, estagnam e jamais desenvolvem suas totais potencialidades.
O Inter B, ou ainda o elenco que disputa o campeonato de aspirantes, tem atletas de 22, 23 anos… Aqui cabe uma opinião muito pessoal, e respeito quem pense o contrário, mas ao meu ver, se tais atletas ainda não despontaram, ou nem mesmo foram dignos de oportunidades na equipe principal com tal idade, que há uma desvirtuação do objetivo destes times, que deveriam ser um estágio anterior ou complementar à transição definitiva à equipe profissional.
Em contrapartida, há uma cultura entrincheirada no clube de muitas vezes preferir o atleta de fora, já rodado, a promover suas jóias muitas vezes imberbes. É uma questão cultural, de cima para baixo. Ao mesmo tempo que o Santos com frequência dá oportunidades para atletas de 17, 18, 19 anos (e assim releva muitos jogadores), em nosso clube apenas os fora de série ou extremamente promissores vão pelo mesmo caminho.
Salvas exceções circunstanciais, há um temor demasiado de “queimar” atletas que não estão prontos; a linha entre zelo e medo é muito tênue, e aqui creio que o pêndulo tem ido com muito mais frequência para o último do que para o primeiro.
Paradoxalmente, o que muito se viu, principalmente em anos anteriores, foi justamente o contrário: em momentos de pressão (resultados adversos, más campanhas, etc…) colocar os jovens na fogueira, e em situações mais favoráveis esquecer de dar rodagem a atletas com potencial e com necessidade de exposição gradativa ao ambiente profissional.
É óbvio que competições oficiais não são locais para experimentação, mas é no mínimo incoerente que os jovens tenham suas oportunidades nos momentos mais críticos e de maior instabilidade do time e não as tenham quando as condições são mais favoráveis ao seu desenvolvimento; mesmo atletas rodados geralmente não dão boa resposta em tais circunstâncias.
E assim, o atleta da base, o qual muitas vezes fala-se maravilhas, acaba por povoar o imaginário do torcedor colorado como um diamante bruto, que vai suprir as carências imediatas da equipe e será o novo salvador da pátria.
A lista de atletas na condição acima é dinâmica, e todo ano temos uma lista de “supostos craques” que estão esquecidos na base; a atual é Sarrafiore, Richard, Nonato, José Aldo, etc, etc.
Odair Hellman deu uma entrevista recente bem interessante neste ponto; segundo ele o acompanhamento da base é bem de perto, e “…se estivesse alguém pedindo passagem, já estaria no grupo principal”… Creio que a entrevista foi pra RBS, se alguém tiver o link a mão, por favor me envie que faço o adendo ao post…
Da declaração, pode-se tirar algumas conclusões… Entre elas é que talvez estes atletas não sejam tão diferenciados quanto se imagina, ou ainda que há um processo de preparação para não queimar etapas, principalmente no caso de Sarrafiore, o qual devido ao imbróglio com o ex-clube tem seguido um rigoroso programa de recondicionamento e recuperação da intensidade necessária para um jogo de alto nível no time de cima (sim, a intensidade é diferente do que jogar e treinar em Alvorada).
É lógico que fica muito difícil entender e questionar se não há o pecado do excesso com estes atletas da base, ainda mais quando contrata-se jogadores como Gabriel Dias, Felipe Gutiérrez, Dudu (a lista continua…) ou ainda são concedidas inúmeras oportunidades para atletas que simplesmente não vingam: Pottker, Camilo, Rossi, Jonathan Alvez… O ponto aqui é que jovem nenhum recebe tantas chances com tão pouco rendimento; isto prova que há uma certa parcialidade e condicionamento no aproveitamento da prata da casa, e isto não é saudável ao clube em minha opinião.
As maiores conquistas do clube sempre tiveram como alicerce pratas da casa ou ainda atletas buscados muito jovens em outros clubes: Falcão, Mauro Galvão, Sóbis, Edinho, Pato, Giuliano, Sandro, etc.
Um exemplo claro para a falta de uma política clara para o aproveitamento da base é o de Juan Alano: jogador interessante, boa qualidade, bom passe, e com características raras no plantel colorado, que entretanto tem menos da metade de minutos jogados no campeonato (294 x 143) que Gabriel Dias, um jogador bem inferior na minha opinião (apesar das características diferentes).
Foi contratado recentemente um profissional que estava no Flamengo para se dedicar exclusivamente a transição da base pro profissional, que deve trabalhar junto com Rodrigo Caetano. Adicionalmente, há pessoas qualificadas trabalhando no clube, entre eles o ex-colunista do blog Gonça, na qual deposito a maior confiança e que detém as características e perfil necessário para um excelente trabalho a frente da base do clube.
Entretanto, há barreiras a romper, e talvez a maior delas é a cultura vigente do clube de apostar alto em jogadores de fora e esquecer de olhar pro Celeiro de Asas.
Romper este status quo é um trabalho que não se concretiza da noite pro dia, mas fundamental pra retomada das conquistas e saúde financeira do clube.