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Meados da década de 1990, apesar daquela draga que era o time do Internacional, acabei por me engajar novamente com as coisas do Colorado já que meu guri mais velho conseguia ser fanático torcedor mesmo naquele tempo. Quase nada de perspectiva. Muito pouco de esperança. Fracassos e mais fracassos. E ele ainda assim se tornara um Colorado de fé. Só que ali, vendo ele com aquele credo todo em torno de dirigentes de quinta categoria, treinadores fracos e jogadores abaixo da linha da pobreza, entendi que o sentimento de ser do Inter é algo inexplicável.

O sentimento em si se chama Sport Club Internacional.

Como alguém conseguiu convencer um guri a torcer por aquele Internacional, um dos mais pobres tecnicamente da história, eu não sei. Falo com sinceridade, pois não fui eu o responsável por aquilo. Nasceu com ele e se aflorou em meio aos espinhos. O sentimento de ser Colorado era tão forte nele que eu também me contagiei, admito. Meu guri me resgatou como torcedor Colorado.

Naquele tempo eu estava morando uma temporada no Vale dos Sinos. Recordo que chegamos num sábado de mudança e no domingo o guri já estava enturmado com a patota da vizinhança. Não demorou muito para a rivalidade greNAL se despontar. E pensando bem agora, desconfio que tinham mais Colorados dentre aqueles garotos, mesmo naqueles tempos sombrios.

Que sentimento!

Foi numa dessas que conheci o Beto, um Colorado cinquentão gente boa que morava com a mãe de 70 e picos e o filho que regulava em idade com meu guri. Primeiro foi ele pra dentro da casa do Beto olhar os jogos do Inter, afinal era o único que tinha TV a cabo por ali; depois, quando vi, estava eu sentado no sofá também. Virou uma rotina. Era uma casa simples mas que transpirava o sentimento Colorado.

Numa dessas, era um jogo noturno de meio de semana, enfrentávamos o bom time do Santos. Falei para o anfitrião que só na bola não ia dar, precisávamos apelar para a superstição. Sugeri que ele arrumasse um peixe qualquer para fazermos uma mandinga que fosse. Obviamente, falei bobeando, mas ele levou a sério: quando chegamos para assistir o jogo eu questionei o Beto sobre o peixe, momento em que ele me vai para a cozinha e volta com uma lata de sardinha.

Foi a gozação total.

Beto levou tão a sério a história da mandinga que a cada ataque do Santos, ele jogava aquela lata de sardinha pela janela e depois fazia um dos garotos catar a coitada em meio a grama defronte a casa. E tudo começava de novo… Que noite memorável foi aquela.

Não demorou muito e mudei novamente. Depois disso vi o Beto somente mais uma vez, ele ainda assava carne aos domingos na Sociedade que tinha próximo. E nisso já se vai cerca de duas décadas. Espero que ainda esteja bem, pelo nosso Colorado.

Pois depois de algum tempo, enxergo esse sentimento que é ser Colorado em alguns jogadores deste novo time do Internacional que vai se moldando aos trancos e barrancos. Quem sabe se conseguirem estes, à imposição da vontade, da raça e da garra, resgatar o verdadeiro Internacional, possamos novamente alcançar bons ventos. Novas mentes dispostas em torno do mesmo e velho sentimento.

O Beto naquele tempo resguardou o sentimento Colorado em muitos garotos. No meu guri, inclusive. Sabia contornar as derrotas com desculpas homéricas, como poucos. E assim, em meio a muitas desilusões, fomos formando uma legião de torcedores que não abandonam esse Clube jamais.

Um sentimento que se chama Inter. E nunca se acaba.

 

CURTAS                                                                              

– Como quem tudo quer tudo perde, 4 pontos em 6 neste tour por SP ficou de bom tamanho, convenhamos;

– O que nos deixa de arrasto na tabela foram os empates contra times medonhos;

– Pedro Henrique pode parecer carro velho sem arranque, mas confio que ainda vá pegar no tranco. Alan Patrick sem embocadura mas é de outra prateleira;

– David me faz lembrar daqueles jogadores abaixo da linha da pobreza da década de 90. Saudade alguma;

– Daniel e Muriel combinam bem na rima. Ainda espero que fique somente nisso;

– Dois corações no caso Bruno Mendez: muito caro por um lado, só que detém o sentimento Colorado correndo na veia. É dos nossos. Eu pagaria. Juntem uns pilas para ficar com o Vitão também;

– Se o Taison tivesse com a balança a mesma motivação que tem pra organizar motim, talvez até fosse o craque que ele pensa que é!

 

PERGUNTINHA

Com Dourado em campo a vitória é inimiga?

 

Te aninha neste sentimento Nação Colorada!

PACHECO

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