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Não tive a satisfação de fazer muitos amigos, de verdade, na vida, mas aqueles que conquistei são de fé. Conhecidos, entretanto, tenho às pencas. Dentre eles o Moacir, numa das tantas cidades em que morei.

O Moacir era um sujeito pacato, vivia sem muito luxo na sua casa de esquina de cor laranja, quase sempre sentado na mureta da varandinha, para ver o povo e o tempo passar. Dizem que sobrevivia dos seus ganhos lá de fora, mas não era um vivente de usar bombacha (apesar do gauchismo da cidade): de regra uma calça de tergal e camisa (sempre clara) de manga curta e com os três primeiros botões abertos. Simpatia não era seu forte, um homem que não mostrava os dentes para qualquer um. Vez ou outra galanteador, brindava alguma senhôra que passava com um botão de rosa do seu próprio roseiral. Não era, enfim, lá uma vida muito agitada e vibrante.

Pessoas como ele, contudo, quase sempre tem um gatilho, algo que faz com que mudem até mesmo de personalidade, ainda que momentaneamente. Para uns é a bebida, uma prenda ou algum romance, mas para o Moacir era a dança. Certa feita fui num bailinho da terceira idade na Sociedade, casa cheia de velhos como eu. Quando me dou por conta, o Moacir, de camisa azul marinho, cabelo penteado para trás, uma calça de brim também escura e umas botas de couro – branca com preta – estilo holandês, cruzando o salão dançando. O que dançava aquele Taura era uma barbaridade! Afigurando um chote, então… Dava gosto de ficar só olhando, que foi o que eu fiz.

Assim como deu gosto olhar os primeiros 16 minutos do Internacional na partida de ontem. Enfim, estreamos no ano de 2023. Troca de passes rápidos, pressão na saída de bola do adversário, profundidade e volume de jogo. Tocamos um calorão no ‘Cacia’. Só faltou fazer mais gols e isso vem se repetindo no Internacional desde a saída de Ramirez: time tem um medo claro de balançar as redes, pelo visto.

Não sei qual foi o gatilho do time para voltar a mostrar futebol, se as críticas merecidas que vem sofrendo, mas não durou quase nada a galhardia. Dali em diante fomos definhando pouco a pouco, entregamos a bola pro adversário e no segundo tempo, praticamente, tivemos onze telespectadores de luxo, dentro de campo.

Preocupante e injustificado.

Como não era mais guri, obviamente o fôlego do Moacir não ia muito longe. Deixava as senhôras, todavia, rindo sozinhas daquele espetáculo pelo salão do baile, todas à espera de uma próxima oportunidade para garantir a sua vez de se refestelar com o bom dançador.

Não sei se o Inter cansou e acho até que o problema é bem maior que isso. Mas quero crer que em algum momento o time vai ultrapassar os 16 minutos de fama, e aí seremos nós, Torcida Colorada, a se refestelar com o verdadeiro time de futebol do Sport Club Internacional.

Por enquanto, até para observar está difícil. Que o Colorado encontre o seu “gatilho” de uma vez por todas. E que o baile dure bem mais que meros 16 minutos.

 

CURTAS          

– Mano Menezes, é verdade, está carente de peças. Mas com o que tem é mais time que qualquer adversário do “charmoso”. Precisa ser cobrado pela falta de desempenho e repertório tático. Não é de hoje que digo que faz leituras ruins em meios às partidas e, ontem, foi só mais um exemplo;

– Alan Patrick, Carlos De Pena, Pedro Henrique e, com certo esforço, Renê. São os jogadores que desempenharam mesmo futebol em 2023. Já o restante…;

– Perdemos a oportunidade de vender o Johnny. Começo a duvidar se até mesmo soccer corre em seu corpo;

– Lucas Ramos, o mosquito, parece um guri do bem. Dito isto, não sei se tem bola para jogar no Internacional;

– Eu digo em todas minhas participações no ano até aqui: não é só qualidade, falta também quantidade. Vão colocar o Sidney Lobo no BID para encarar o gauchão(?);

– Pessoalmente, esperava alguma coisa do Vice de Futebol. Decepcionante, na prática. Amorfo e letárgico. Exemplo cintilante daquilo que tem se mostrado a atual gestão;

– Não bastando se comunicar mal com a torcida, a atual diretoria agora têm nos proporcionado pitadas de desespero e desesperança a cada entrevista que se presta a conceder. O silêncio, quase sempre, é bem mais enriquecedor que a própria palavra. Da série aquela “calado é um poeta”.

 

PERGUNTINHA

Acabou o amor com Mano Menezes?

 

Coragem, meu Povo Colorado!

PACHECO

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