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Sempre tive um relativo gosto pela literatura, em especial a gaúcha, e tanto por isso tenho em Érico Veríssimo como seu principal expoente. Não raro lendo a saga de “O Tempo e o Vento”, imaginava a cidade de Santa Fé como se fosse muito próximo dos confins da donde vim: uma igreja de pedra, um padre sempre de batina, uma praça em frente, um coreto, as casas em volta da praça, algumas já querendo sair do vilarejo campo afora, um mausoléu de madeira de dois pavimentos – coisa rara e de gente muito rica. Tudo isso tinha no meu rincão. Mais tarde, parte da praça deu lugar a um campo de futebol e a campeonatos memoráveis.

De alguma forma ou de outra Veríssimo me cativava tanto e descrevia com tamanha particularidade um pedaço da minha vida, ainda que eu não tenha tido o privilégio de conhecê-lo e muito menos ele a mim, mas era um ideal de quem nasceu e cresceu no interior para depois ganhar o mundo.

Foi assim que criei uma “intimidade” com o Rio de Janeiro e passei a gostar da velha capital do país antes mesmo de conhecê-la. Érico descrevia a relação de alguns de seus personagens com o Rio de tal maneira que eu parecia viajar junto a cada nova leitura e gostava de imaginar tudo aquilo, assim como espelhava em Santa Fé um pouco do começo da minha vida.

Óbvio que de regra a literatura estimula a mente. Todo o resto vai da capacidade cognitiva e criativa de cada um.

Já era década de 1990 quando viajei ao Rio pela primeira vez e, numa destas, o Internacional jogava contra o último adversário, o mesmo Botafogo; só que ainda no velho Caio Martins, em Niterói. Eu estava lá para um congresso agraciado pela repartição e como não tinha celular ou estas modernidades, ninguém daria falta minha no tal congresso mesmo.

Fui de táxi pra Niterói ver o Colorado (tenho outra passagem a ser contada aqui indo de táxi para a quadra da Portela, em Madureira, num Santanão que parecia uma chaleira em ebulição). Dei sorte, ganhamos de virada. O time ali chegou a me dar alguma esperança de terminar o campeonato de forma razoável, mas acabamos naquele ano nos salvando quase que na bacia das almas, gol do Dunga de cabeça com cobrança do Celso.

Era pra ser mesmo, afinal, já que a lógica seria o contrário: Dunga cobrando a bola parada e Celso marcando de cabeça. Na torcida, dentre alguns gatos pingados de vermelho, conheci um senhor cujo nome me foge agora, morava por ali desde os anos 70 e se emocionava em ver o Internacional de perto, pois aquilo remetia ao que deixou para trás.  Disse-me que o Inter era sua melhor lembrança.

Confesso que me senti menos Colorado naquele dia. Eu parecia já não nutrir o amor pelo Clube tal qual aquele gaúcho já meio velho, um bocado de tempo longe de casa. Por vezes tenho sentido o mesmo em cada vez que me sento para escrever para os amigos, já que mal tenho tentado acompanhar o time atualmente. Não sou menos Colorado já que esse sentimento não se apaga, mas estou menos torcedor com o escopo de escrever aqui sobre o assunto, em suma.

Mas esta vitória contra o Botafogo no último domingo me pegou, me fez lembrar dessa minha relação com o Rio (ainda que distante) e do tempo em que eu tinha nas obras de Érico Veríssimo a única chance de viajar, ainda que pelo mundo da literatura e da ficção.

E se é verdade ou ficção a chance do Internacional ainda ser campeão, saberemos em poucos dias. Mas se for pra ser, tem que estufar o peito diante de qualquer adversário e tão somente replicar, ainda que em pensamento, a mais celebre passagem da obra do maior autor gaúcho: “Buenas e me espalho, nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho”.

Então dê, Internacional. Então dê.

 

CURTAS          

– Somente torço pelo Colorado, mas me permito ‘destorcer’ para alguns gaiatos por aí, logo, reconheço que hoje acordei rindo. Só não falo de quem…;

– Mano Menezes parece certo do que quer como treinador do Inter. Isso é meio caminho andado;

– Sou saudosista eu sei, mas me repiso: renovaria com Rodrigo Moledo;

– Taison entra e mostra as ferramentas. Aí me toma um cartão e já não joga no próximo. Enfraquece a amizade assim;

– Para 2023 manteria Liziero, igualmente; e o garoto Kaique. Dos que voltam, este Bruno Gomes acho que poderia ganhar uma chance real;

– Disse e repito: Romero haverá de fazer o gol do título do Internacional;

– Xirú velho como eu não tem que se meter com tecnologia. Menos ainda a fazer simulação das próximas rodadas do campeonato brasileiro. Aceitem o conselho deste que vos escreve: não façam!

 

PERGUNTINHA

Apenas eu enxergo o narigudo Leandro Machado quando vejo Braian Romero?

 

Só mais um pouco, Nação Alvirrubra!

PACHECO

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