4.3
(22)

Nem me importo muito de perder para o lanterna, ou deixar de somar pontos em momentos importantes no campeonato. Flamengo perdeu, Palmeiras empatou, só o Galo, com as calças na mão, venceu o Bragantino. O resto patinou.

Também não me importa muito perder para um time com um jogador a menos, já goleamos com um jogador a menos.

Mas me importa muito o time não jogar por 45 minutos inteiros, isso sim me incomoda sobremaneira.

E o time se recusou a jogar os primeiros 45 minutos, e quando digo jogar, falo em praticar aquele esporte bretão cujo objetivo é marcar gols. É muito tempo para jogar sem objetivo, para jogar apenas na troca de passes na intermediária, acreditando que o gol surgirá sem ninguém entrar na área ou chutar no gol.

O futebol tem alguns conceitos básicos que o Inter desaprendeu nos tempos de retranca e empilhamento de volantes. Um deles é que só ganha quem acertar o espaço entre as três traves, ou melhor, quem fizer a bola ultrapassar aquele espaço. Ficar com a bola não resulta gols, não resulta vencer as partidas, e parece que, ano após ano, isso está incrustado de tal forma no time, que só chacoalhadas resolvem.

Outra constante é a falta de presença na área. Claro que pode ganhar com chutes de longa e média distância, se eles ocorrerem, mas é mais fácil fazer gols com mais gente na área.

Tradicionalmente, nossa direção não busca jogadores com vontade de entrar na área. Galhardo, meia com presença e gosto pela área, não veio como prioridade. Marcos Guilherme é jogador de velocidade, não gosta muito da área, e mostrou que pouco sabe fazer quando etá nela. Boschilia é jogador que ingressa com velocidade, mas não é jogador que tem ali o seu espaço natural, e D’Alessandro nunca gostou da área, prefere os arredores.

Praxedes, que segue tímido, mas mostra qualidade quando ousa, quando sai do futebol burocrático, também não é chegado na área, embora jogue mais próximo dela que os demais. O resto é defensor, e nossos defensores laterais mostram, além de pouca intimidade com a bola, um receio muito grande daquele quadrilátero, tornando Abel um Robinson Crusoé no time no primeiro tempo.

Já é complicado ser abastecido por Moisés e Rondinei, e mais complicado ainda sem nenhum entrosamento jogar entre dois zagueiros altos. Por mais que se diga que Hernandez perdeu gols, não os diria tão claros assim, e mais, desta vez, ninguém perdeu gols no Inter, apenas desperdiçamos chances, nas raras vezes em que conseguimos concatenar algumas jogadas.

D’Alessandro, cujo perfil seria muito importante para jogar contra times fechados, não jogou absolutamente nada, não produziu um mínimo que se poderia esperar, e são várias as razões disso. O time melhorou muito com a entrada de um desentrosado Fernandez, mas que jogou com o objetivo de atacar e fazer gols, coisa que D’Ale não fez enquanto esteve em campo.

Ao Inter faltou coragem de perder a bola, pois não esperava muita técnica dos que estavam em campo.

A penúria do elenco, do meio pra frente, agravada com lesões, fizeram com que Moledo virasse centroavante nos minutos finais, tamanha a desproporção do plantel entre meio ataque e defesa.

Mas a burrice de nossos jogadores é que mais assusta. Musto não entendeu que está marcado na paleta como jogador violento, e que se espirrar em campo, será expulso por disseminar vírus. Aí faz uma falta besta em Rafael Moura, que talvez não fosse falta em outro lugar do planeta, mas é no Brasil, e era a única jogada que o Goiás tinha, já que o treinador optou por um grandalhão lento em vez de velocidade, quando repôs o lateral expulso. Goiás deixou claro que era só bola parada, e dois jogadores no campo do Inter. Fazer faltas era o retrato da burrice.

Aí vem o balão, em uma defesa recuada porque o goleiro não sai do gol, Abel afasta errado e Lomba quer impressionar. Uma sequência de erros, mas era um gol de um time que se recusava a atacar e com um jogador a menos, teoricamente fácil de reverter, mas não para um time que tinha medo da área.

O segundo tempo já veio com Galhardo, e não faltou ímpeto, mas estratégia. O time de Coudet depende de bons laterais, e os nossos, que jogaram ontem, tem problemas com domínio de bola. Moisés até tentou, mas definitivamente não se entende com Boschilia, e este, que em tantos jogos tentou o chute, uma de suas boas armas, ontem tentou uma vez apenas. Em times entrincheirados como jogou o Goiás, e sem nenhuma velocidade, a estratégia de rodas bolas é acertada, mas precisa de variações entre cruzamentos e chutes, para não deixar os defensores adivinhar a jogada, e o Inter fez vários cruzamentos repetidos, com poucos jogadores na área, mas nenhum chute. Aí a bola não entra, não adianta.

O Inter não se deslocou, não triangulou, não driblou. Nas duas únicas vezes que driblou, Praxedes conseguiu a melhor jogada do time, mas a penúria de atacantes é brutal. Nas duas vezes em que triangulou, Rondinei conseguiu fazer algo bisonho, justamente quando havia mais gente na área.

Coudet precisa subir os jovens, tentar, ousar, pois não é possível que Lindoso seja opção de ataque, que Uendel seja opção a Moisés, e que Moledo seja escalado para fazer gols milagrosos. Entendo a necessidade de poupar pela Libertadores, de premiação importante, mas não vejo o trabalho como simples busca de títulos, mas de desconstrução do modelo anterior de pensar o futebol, e não vai conseguir isso se não implementar essa mentalidade em todos os jogos, em mais tempo do que tem usado até o momento.

Coudet precisa que os jovens entrem e errem, sem que ninguém reclame deles, que Praxedes erre vários dribles e chutes sem ninguém reclamar, que Boschilia chute mais, que Edenilson assuma protagonismo no erro, e sobretudo, parem todos de pensar que D’Ale é algum tipo de solução, e que as jogadas precisam dele para acontecer.

O Inter precisa abandonar mais rápido quem não dá resultado, e dar mais chances para que outros mostrem que também não dão resultado, mas pelo menos daí pode surgir uma surpresa.

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