Mauro Loch

Força aérea colorada

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Há uma reportagem circulando sobre os problemas na bola aérea na zaga do Inter, colocando que 37% dos gols sofridos, com Zago, foram de bolas aéreas, e que a correção da defesa se impõe.

Precisamos falar sobre a bola aérea, sempre lembrando que estatísticas merecem interpretações, e repetindo que, segundo elas, todos temos um testículo e um seio.

Pois bem, no gauchão, foram 7 gols de bola aérea, dos 18 que sofremos. A reportagem claramente é tendenciosa, apontando o maior número de gols (5) quando a zaga foi formada por Ortiz e Cuesta. Aponta que Paulão participou em duas oportunidades. Não vou falar sobre Paulão, não vejo como ele possa seguir no Inter.

A reportagem é fiel aos números, mas não é fiel ao indicar o sistema defensivo, que, para o repórter da hora, a defesa se resume a Ortiz e Cuesta.

Pois bem, fui trabalhar e rever todos os 5 gols com a zaga Ortiz e Cuesta. E nosso problema não está ali, longe disso, bem longe disso.

Teoricamente, são duas defesas clássicas de bolas aéreas, a marcação por zona e a marcação individual. Uma terceira é mista, com parte individual e parte por zona, dependendo do adversário.

Zago utiliza a marcação por zona, como todos os treinadores modernos, mas usa também a mista, ou pelo menos usou contra o NH.

A marcação funciona com bola parada, mas com bola rolando, depende do posicionamento dos jogadores; por exemplo, em um contra-ataque de  escanteio, os zagueiros podem não estar posicionados porque estavam na área adversária. Mas não foi o caso, e vamos aos gols.

O primeiro é contra o Cruzeiro, falta lateral, cruzamento no primeiro pau, defesa bem postada na marcação por zona, o adversário se adianta e Roberson não acompanha, e não corta o cruzamento. Essa é a bola mais usada contra defesas armadas por zona, e foi a bola que derrubou Roger no grêmio. Se o atacante (normalmente é atacante por ser mais alto) não cortar a bola e o adversário infiltrar, ele cabeceia, e foi o que aconteceu. Todos os demais estavam posicionados, só Roberson dá um passo a frente e não recupera a altura. Nada a ver com os zagueiros.

Contra o Caxias, gol do baixote marcado pelo William. Não foi de bola parada, e o caxiense cruzou como quis, com todo o tempo do mundo para escolher onde mandar a bola. Parte da falha é do marcador, que deixou o atacante se distanciar, mas é muito difícil, de costas, controlar a movimentação do atacante; por isso a marcação no cruzamento deve ser mais forte.

No Inter não é, porque Zago usa 3 homens para marcar na segunda linha, protegendo o miolo, mas as laterais ficam livres, e só há combate quando o marcador (no time do Inter, um volante), se desloca para impedir o cruzamento. Com 3, a faixa lateral do campo fica muito grande, e todos cruzam como querem na área do Inter.

Contra o NH, tomamos 3, sendo que a reportagem conta o gol contra como bola aérea vazada pela defesa.

Aí o baile é por conta do Beto Campos, que, analisando a marcação do Inter, viu que não acompanhava os atacantes se estivessem recuados, esperando que se projetassem, e recuou seus cabeceadores. No primeiro gol, Uendel não segura o artilheiro (e nem poderia, dada a diferença de massa), e Dourado não chega a tempo, pois está muito atrás na linha da zona de marcação, muito longe dos cabeceadores.

Minha bronca é que já tinha ocorrido isso na bola no poste, e não foi corrigida a marcação. No escanteio seguinte, gol.

No segundo gol, a marcação já era mista, e Edenilson e Dourado não alcançam, mas atrapalham. O erro estava em colocar Edenilson (e antes Uendel), para marcar os cabeceadores encorpados do NH. O segundo cabeceio do lance, que resultou no gol, foi falha coletiva do Carlos (acho) e do Keiller. Keiller tinha que ter saído antes, e Carlos ficou parado olhando o adversário cabecear. Cuesta está no meio da área.

Na segunda partida contra o NH, a bola aérea deles não funcionou, e Ernando fez como Nei havia feito a nosso favor quando jogava pelo Vasco, e como o defensor do Jorge Wiltersman (acho que está errado) fez contra o Palmeiras. Bem posicionados, movimento errado.

Ou seja, em análise mais minuciosa, os problemas não estão nos zagueiros, que ocupavam sua posição determinada pelo treinador na marcação por zona, e nenhum dos cabeceios que resultou em gol foi em confronto direto dos nossos zagueiros com os cabeceadores adversários (os que Paulão participou foram), exceto William.

Nosso problema, na bola aérea, não são os zagueiros.

 

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