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Meu prezado treinador, vou lhe chamar de treinador como elogio, pois há alguns anos não tivemos esse tipo de profissional na casamata, o que talvez explique muita coisa que não lhe tenham dito, mas isso é assunto para outra carta.

Sou apenas um torcedor, daqueles que torce, mas observa.

Comemorei sua chegada pelo que li de seu histórico, um treinador que monta times ofensivos, que preza a posse de bola objetiva e gosta de conclusões nas jogadas.

Na sua conturbada chegada, herdou um time cheio de jogadores que não gostavam de ingressar na área e de concluir a gol, por isso entendi a fase de transição. Também recebeu um time que aprendeu a se defender apenas, normalmente com 9 ou 10 atrás da linha da bola, e jogar especulando uma ou duas jogadas que poderiam resultar em gol. Também por esse motivo entendi os primeiros jogos ruins e travados.

Sei que não conhecia o grupo, então o período de experiências e testes era natural, e os erros na escolhas de jogadores, que a torcida conhece muito bem, também são justificáveis, principalmente em um clube cuja mentalidade é de que torcedor deve torcer, já que não entende nada de futebol.

Mesmo com esse quadro negativo, brindou os torcedores com duas apresentações muito boas nos jogos da Libertadores, antes da pandemia, com todas as características que seu histórico anunciava.

Nestes dois jogos, o time marcava muito, era bastante incisivo, usava a posse de bola como caminho para finalizações e movimentação intensa dos jogadores do meio para frente.

Entendo seu esquema, compreendo que precisa de zagueiros que saibam dar passes um pouco mais ousados e lançamentos para o avanço dos laterais, cuja proteção fica como encargo do primeiro volante jogando entre os dois zagueiros, e que o segundo volante é peça essencial no na linha de três jogadores que formam o meio, tanto que foi o lugar onde mais testou jogadores, talvez por não ter achado o nome certo  no início, até que encontrou Edenilson.

Lembre que teu melhor Inter até o momento jogou com dois volantes apenas, Musto(Lindoso) e Edenilson, e que o resto do meio era composto por dois jogadores rápidos, não tão técnicos assim, mas com velocidade e movimentação, e completados por um ataque que sabia o que fazer com a bola, seja alta, seja pelo chão, que tinha intimidade com o passe e conclusão.

Pois é meu prezado treinador, precisa voltar às origens.

Sei que a pandemia atrapalhou tudo, e, depois disso, as lesões de Guerrero, Peglow, Marcos Guilherme, Pottker (o que considero um acréscimo) e Yuri Alberto lhe deixou sem atacantes, e os que recebeu agora estão entendendo o esquema e se entrosando com o resto dos jogadores, mas, ainda assim, precisa voltar ao que descobriu de melhor do Inter.

Curiosamente, seu melhor Inter tinha apenas dois volantes. Esse tipo de jogador normalmente é aplicado, corre bastante, demonstra entrega, ou seja, tudo aquilo que um profissional deve fazer, mas, até por serem volantes, não tem as características de intimidade com a bola, com o drible, com a jogada pessoal que seu time tanto precisa, então não deve seguir os escalando fora das funções de destruição de jogadas, porque eles não sabem construir.

Sim, farão gols e por vezes jogarão muito bem, mas, normalmente, farão passes laterais em vez de verticais, passarão a bola e retornarão à função de marcação, e não vão infiltrar, e, quando receberem a bola com liberdade, na frente da área, buscarão um passe, e não a conclusão. Não adianta muito treino, esse reflexo está incutido em sua formação, e dificilmente os abandonará. Então, o torcedor que troce pede, use no máximo dois desses jogadores, e em função de destruição.

Entendo sua dificuldade com os laterais. Saravia é o lateral direito que há muito tempo não víamos jogar no Inter, e pode evoluir com seu esquema; mas a lateral esquerda tem jogadores que não estão rendendo o mínimo necessário e esperado. Outros jogadores também não estão rendendo o que se espera deles, talvez mal posicionados, talvez por algum problema que não seja ligado diretamente ao futebol, mas é fato que o desempenho não está condizente com o que já apresentaram.

Então não insista. Se a diretoria não lhe ofereceu um plantel qualificado, e manteve jogadores ruins como Pottker, e contratou mais volantes como Jussa, não esqueça que recebeu um grupo de jovens campeão da Copinha, depois de muito tempo.

Sei que dali já buscou Praxedes, zagueiros, que deu chances aos guris que outros ocupantes da casamata não ofereciam, mas, como torcedor que torce e observa, lhe digo que a base pode mais, e se os jogadores do grupo principal não estão rendendo, tente a base, pelo menos tente.

Arrisco dizer que poderia tentar Cezinha, Léo Borges, Mosquito e Matheus, mas sou só um torcedor, que também leu teu histórico e sabe que já fez isso antes, e acho que poderia fazer no Inter.

Sei que tem três campeonatos simultâneos e um time com vários desfalques, e que o calendário será apertado, o que é mais um motivo para ampliar o número de jogadores que usa. Se não der certo…, bem, os que utiliza também não estão dando certo, então vale uma mudança.

E o que peço, como humilde torcedor que torce, mas observa, é que volte às tuas próprias origens, que faça o time ser mais incisivo, impulsivo até, que corra mais, seja mais rápido nos passes, e que conclua a gol, ainda que erre, mas que conclua, mas, sobretudo, que não use mais do que dois volantes, que lembre do teu melhor Inter e nos traga ele de volta.

Abraços;

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