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Depois de dois meses em que o excesso de trabalho e outras obrigações da vida me impossibilitaram de continuar escrevendo aqui, estou retornando para o BV às quintas-feiras. Infelizmente, o prazer de poder compartilhar algumas ideias com vocês se defronta com o desânimo por encontrar nosso time em situação ainda cambaleante e sem uma perspectiva imediata que nos permita ter esperanças de dias melhores.

Não sei exatamente se li em algum lugar o que vou escrever agora, mas parece que uma nova mentalidade se instalou de forma generalizada no Inter após o segundo título da Libertadores. Foi a partir dali que as administrações começaram a formar, talvez de forma inconsciente, a ideia de que nosso clube havia ingressado definitivamente no panteão dos maiores do mundo e que nosso futuro seria exclusivamente e naturalmente vitorioso. Algo que, aliás, não é tão difícil de entender. A incontestável sequência de títulos daqueles anos, somada a uma monumental série de fracassos do rival, ajudou a enraizar esse pensamento em muitos colorados.

É estranho perceber hoje que, ao longo destes últimos anos, mesmo quando o desempenho abaixo do esperado se tornava comum e algumas tendências na forma de administrar o clube começavam a ficar mais claras (como as questionáveis contratações de medalhões e heróis do passado, a incapacidade de gerenciar o vestiário e as estratégias mal formuladas para o futebol), o peito inflado de campeão de tudo não nos permitia aceitar a ideia que passávamos por uma crise, quem dirá admitir a possibilidade de uma queda. Afinal, time grande não caía e nosso time era enorme, o maior vencedor do novo século. E poucos foram os iluminados que tentaram nos conscientizar sobre o cheiro podre que permeava o nosso reino.

Em particular, eu queria me ater aqui a uma questão que está muito presente nos dias de hoje: a falta de uma cultura verdadeiramente vencedora. Em uma triste ironia, o clube que na década passada alcançou todos os títulos hoje carece do espírito que instiga em cada profissional, dos gabinetes ao campo de jogo, a interminável vontade de ganhar a qualquer custo. Mesmo quando o desempenho capenga, mesmo quando a qualidade técnica e tática é escassa, a um clube como o nosso nunca poderia faltar gana e garra. Pois quando a comissão técnica e o departamento de futebol resolveram poupar jogadores em agosto de 2010 para uma competição que só teria início em dezembro, tudo começou a desmoronar de vez.

Hoje somos reféns de políticas administrativas e de futebol que muitas vezes relegam as vitórias em campo a segundo plano, como se para um clube como o Sport Club Internacional pudesse haver outras prioridades. A execrável e cada vez mais frequente prática de poupar jogadores de forma aleatória e sem uma estratégia claramente definida nos causa contínuos embaraços e frustrações em praticamente todas as competições que disputamos. Somos obrigados a acompanhar ano após ano um time que, independente de treinador, escalação ou esquema, parece aceitar resultados inexpressivos, derrotas vexatórias e eliminações precoces. Nos microfones, seguimos ouvindo o já desgastado discurso oficial de que “o Inter sempre entra para ganhar”. No entanto, não é isso o que vemos dentro das quatro linhas.

E o que mais me incomoda neste momento é pensar que o pior talvez não tenha passado. Mesmo com a mudança de diretoria, sabemos que o mesmo grupo permanece no controle do clube e do Conselho. Esse grupo, que anos atrás nos deu a glória máxima, acabou jogando no lixo toda uma história centenária forjada na dedicação e no sacrifício de tantos, nos expulsando de forma definitiva de um grupo seleto e nos roubando uma condição invejada que nunca mais teremos. Mas será que a ficha caiu? Será que eles, e até nós mesmos, aprendemos com essa amarga lição?

Acima de tudo, espero que nenhum vestígio daquele orgulho assoberbado que afetou os nossos dirigentes, e talvez a todos nós em maior ou menor grau, nos faça achar que as coisas irão melhorar simplesmente porque somos muito grandes para ficar onde estamos agora e porque, após a tragédia que foi a administração anterior, achamos que a mera entrada de novas figuras no poder seja suficiente para que tudo se encaminhe naturalmente, como que por graça divina. Se o pior se materializou diante dos nossos olhos no ano passado, alguns erros parecem continuar sendo cometidos agora, nos mantendo neste pesadelo real que às vezes não parece ter fim.

A segunda divisão é uma nuvem negra que paira sobre nós e, neste ano de orgulhos feridos e paixões postas à prova, precisaremos de muito brio para superar este inferno chamado 2017. Acima de tudo, o clube deve encontrar novamente o rumo que um dia orientou seu caminho para retomar uma senda de vitórias. O primeiro passo, talvez, seja extinguir de vez nas bandas do Beira-Rio essa prepotência que insiste em fincar sua presença e nos manter alienados de uma realidade que nos esbofeteia cada vez que nosso time entra em campo.

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