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Ontem tive o privilégio oportunidade de assistir o jogo no Beira-Rio junto com meu afilhado, e a experiência certamente não foi memorável (mais sobre isto depois).

Infelizmente a grandeza do jogo e o confronto contra o qualificado time do Flamengo trouxe uma dura constatação a tona: não apenas as limitações técnicas e do esquema de jogo foram desnudas, mas também a falta de maturidade do elenco e sobretudo do treinador para entender o que é necessário para se credenciar de fato aos grandes títulos.

Falando especificamente sobre o jogo, o primeiro tempo foi vergonhoso, lastimável. Com 5 minutos de jogo o Flamengo já tinha duas chances de gol (uma clara, cara a cara com o goleiro) e com 15 minutos já estava desenhado o encaixe ao qual o time rubro-negro nos submeteu: Odair impávido não mexeu no time ou no posicionamento das peças, e por pura sorte o confronto não se decidiu no 1º tempo, pois o placar era um dos mais enganosos que vi recentemente: era pra estar pelo menos uns 2 x 0 pra eles, fora o baile.

Alias, Odair errou tudo ontem, desde a escalação, o posicionamento, a leitura e as substituições. Até a entrevista pós-jogo foi lamentável (“Estou satisfeito com a escalação com Sobis e Dale pois tem entregue exatamente o que desejo”)

A apresentação muito abaixo ontem tem boa parcela de culpa dele, e ao analisar o confronto que fizemos contra o Flamengo fomos inferiores em 3 dos 4 tempos, o 1º ontem de forma até constrangedora. A distância entre os dois times não é tão grande quanto o confronto fez parecer, mas isto tem grande explicação no banho tático e de leitura de jogo que levou do técnico português que em pouco tempo ajeitou o time carioca e o credencia como forte candidato aos dois títulos que ainda disputa.

Ficou bastante visível que Jorge Jesus estudou o Inter, armando o Flamengo em um 4-2-3-1 que simplesmente desarmou por completo a proposta de jogo do Odair, um eterno refém do 4-1-4-1.

Sem a bola, a linha de 3 do Flamengo (Everton Ribeiro, Arrascaeta e Bruno Henrique) jogava em bloco bem alto muitas vezes com o avanço dos 2 laterais para sufocar por completo a saída de bola colorada: com a pressão alta e com o posicionamento de Edenilson e Patrick muito distante, o que restava era o balão para Guerrero, que marcado o jogo inteiro por Pablo Mari e Rodrigo Caio não levava vantagem na disputa aérea, e pior, raramente o Inter ficava com a 2ª bola, fruto em boa parte de uma apresentação muito acima da média do excepcional Gérson, que foi o dono do meio campo.

Aqui fica a minha crítica mais contundente à jornada extremamente infeliz de Odair: esta foi a toada de todo o primeiro tempo, visível desde os primeiros 5 minutos e em momento algum foi cogitado mexer o posicionamento dos volantes e meias colorados, que encaixotados viram o Flamengo dominar por completo as ações e empilhar chances de gol. A verdade é que Odair simplesmente não sabia como sair da “arapuca” armada: a alcunha de mágico de um truque só parece ganhar cada vez mais traços de realidade.

Ainda sobre o posicionamento, na grande maioria das jogadas ofensivas coloradas olhava-se pro campo e enxergava no máximo 3 colorados no campo defensivo do Flamengo: posicionamento inadmissível para quem precisava marcar gols e uma síntese do que foi estes primeiros 45 minutos: Guerrero isolado no ataque e o meio-de-campo colorado sem conseguir atacar muito menos defender, uma completa nulidade.

Pode se argumentar que o jogo muito abaixo do Inter no gigante foi fruto das jornadas lastimáveis do ponto de vista técnico de Patrick, Dalessandro, Sobis e Uendell, e muito abaixo do seu potencial de Edenilson e Guerrero. Muitos sinalizam que o treinador não tem culpa de que quase o time todo estava muito abaixo, mas a análise que faço é justamente a contrário: quando mais de meio time vai muito mal provavelmente há uma causa maior, e aqui volto ao posicionamento das peças.

Quem acompanha o Inter do tripé de volantes que Odair tanto gosta sabe que a amplitude colorada é avalizada por Guerrero, que retém a bola com o pivô, segura dois ou três adversários e quando não o faz geralmente a disputa em condições de que um rebote pela 2ª bola seja ganha pelos volantes / meias colorados. Guerrero é todo o desafogo quando a transição entre as linhas falha e a zaga se vê obrigada a dar chutão.

Pois bem, o que fez Jesus: adiantou a linha dos zagueiros, distanciando-a do gol de Diego Alves: com a primeira linha alta, haveria do lado rubro-negro o risco de abertura de espaços para infiltrações e bolas em velocidade nas costas da pesada zaga carioca. O primeiro jogo já havia demonstrado que a escalação colorada sem jogadores de velocidade não daria resultado mas obviamente a lição não foi aprendida: Odair raramente muda suas convicções e tal insistência foi de encontro a armadilha preparada pelo português; o que se viu foi um sistema tático que naufragou por completo, e com ele arrastando os jogadores colorados que simplesmente não conseguiram jogar.

Odair literalmente “deu o ouro ao bandido”: uma escalação com Sobis e Dalessandro jamais conseguiria aplicar o contra-veneno necessário e foram necessários 50 minutos para o mesmo se dar conta do erro cometido.

Falando em 50 minutos, não consigo nem com toda a criatividade do mundo entender porque Nico e W. Silva ficaram no intervalo batendo bola com os reservas ao invés de no vestiário recebendo orientações e acertando detalhes com os companheiros; assim como não consigo entender o porque de fazer tal mudança com 5 minutos de 2º tempo ao invés de no intervalo. Certamente o treinador colorado ontem vestiu a fantasia de Prof. Pardal.

Mesmo com todos os equívocos, o destino insistia em dar chances a Odair, que não apenas teve a sorte de não ver o jogo decidido no 1º tempo como viu o colorado fazer um precioso gol e se ver, mesmo que de maneira injusta, na frente do placar e com o confronto inesperadamente aberto dentro das circunstâncias do que havia decorrido no jogo até então.

Entretanto abusar da sorte cobra o seu preço, e Odair cometeu o último mas fatal equívoco da noite: trocou Cuesta por Sarrafiore, uma troca tão equivocada que não faz sentido analisada por aspecto algum. Vejamos:

  • Sarrafiore não tem sido titular nem nos jogos do time “alternativo”, sendo reserva dos reservas; assim é no mínimo incoerente ter sido a solução ontem.
  • A amostragem recente também não é boa: no jogo contra o Goias fez um jogo desinteressado e de pouca produtividade, mesmo contra um adversário fraco e com inferioridade numérica: o momento técnico também não credenciava sua entrada.
  • A troca por Victor Cuesta é totalmente aleatória, ainda mais no contexto que o argentino fazia uma boa partida e seria necessário imposição física já que a zaga estaria exposta a confrontos individuais; se a intenção era trocar um jogador defensivo por um ofensivo haviam melhores alternativas, como por exemplo retirar Bruno e colocar Edenilson na lateral.
  • Da mesma forma, Parede na lateral-direita ou até Pedro Lucas para ter mais um jogador na área faziam mais sentido que a entrada do jovem meia.

Enfim, o imberbe argentino perdeu a bola num drible desnecessário e o contra-ataque ocorreu no 2 contra 1 (apenas Moledo) onde justamente Cuesta deveria estar e o confronto ficou sacramentado. A bola pune!

Sair com a classificação já seria uma tarefa ingrata, mas dentro do contexto de ontem seria completamente injusta, pois os equívocos somados a falta de capacidade de leitura de jogo e reação ao que o jogo apresentava certamente inviabilizaram qualquer chance de classificação colorada.

Para complementar, após o jogo confronto de marginais travestidos de torcedores colorados contra a PM resultaram em bombas de efeito moral e spray de pimenta na torcida colorada que esperava o seu ônibus em frente ao Beira-Rio: o saldo foi meu afilhado de 8 anos chorando, assustado e que certamente não voltará ao Beira-Rio tão cedo! Triste em todos os sentidos da palavra.

Aprender com os erros é condição obrigatória para a perpetuidade a frente de qualquer grande clube do futebol brasileiro e caso Odair queira permanecer como um dos técnicos mais longevos deve logo perceber que a linha que separa convicção e teimosia é tênue e que o futebol muitas vezes não permite segundas chances.

O jogo de ontem foi cheio de equívocos mas também uma excelente oportunidade para aprender e corrigir os erros que não podem se repetir na Copa do Brasil. Entre eles a predileção por jogadores em detrimento de características e a necessidade de ampliar o repertório tático da equipe.

Temos uma semana para lamber as feridas e confirmar a classificação a Copa do Brasil, que de quase certeza já se mostra um risco pela instabilidade dos últimos 5 jogos da equipe.

E uma coisa é certa: para vencer a Copa do Brasil vai ser preciso jogar mais, muito mais, porque com a bolinha de ontem dificilmente o título virá!

@Davi_Inter_BV

 

 

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