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Nos meus mais de dez anos de atuação profissional na música posso afirmar que ao natural assumi a responsabilidade pela construção dos repertórios dos grupos musicais que fiz parte. Mais por fim, cheguei aquilo que considerei o ápice: o improviso. Dependendo de como se encaminhava o fandango (sim, sou gaudério) e como se comportava o povo na sala, eu chamava determinada música ou passava para outro ritmo. Claro que isso só era possível porque eu conhecia bem meus parceiros de palco e porque confiava neles. Nem tanto dependia do ensaio, diante do imediatismo daquele momento.

Na prática, o futebol até não é muito diferente da música. Você tem que seguir uma base, uma trilha previamente determinada, mas com o passar dos jogos você vai tomando liberdades para inovar e trazer ao seu público alvo, algo que fuja do mais do mesmo. No caso do futebol, o público alvo, objetivamente, é o torcedor, mas, intrinsecamente, a inovação tática te faz combalir (em regra) o adversário e alcançar o maior interesse, qual seja, a vitória.

Tornei-me o produtor artístico das bandas em que que participei, pois era o que mais estudava as tendências que se apresentavam no momento. Mesmo sendo tão somente o vocalista. O treinador do time, mal comparando, logo, é o produtor artístico do time e com isso, cabe-lhe criar um repertório capaz de agradar o torcedor e conquistar as vitórias. Acredito que Odair Hellmann, após alguns treineiros sem estofo para comandar o Internacional, conseguiu definir uma trilha para o time, um repertório base que serviu para nos colocar, ainda que aos trancos e barrancos, na terceira colocação do campeonato nacional do ano passado. Base feita, pois, restaria nesse ano corrente passar a arriscar novas opções táticas, novas peças no time titular, algo que não transpareça ao adversário um jogo manjado, enfim, sempre o mesmo baile, mesmas músicas e mesmo ritmo.

Mas daí se nota que a inexperiência de Odair acaba por limitar até mesmo o seu progresso enquanto treinador. Faltam-lhe, algumas coisas, da qual destaco a confiança. Dias atrás ele deu entrevista para um canal da internet, alguém que imita um boliviano ou algo assim, e fez questão de externar que quem decidia o time que jogava era ele. Ainda enfatizou que o dia que não fosse assim, sairia. Ora, para quem se garante no que faz, bastaria como resposta um singelo: quem manda sou eu. E só. E diante desse quadro, Odair acaba por relutar (e muito) em tirar algumas peças do time, principalmente aquelas que exercem alguma liderança ou possuem algum marketing pessoal.

Vejamos, ontem. Entrou Sarrafiore porque Guilherme Parede cansou. Tudo bem. Mas a verdade é que Sarrafiore já poderia ter entrado cinco minutos antes no lugar de D’Alessandro, que só saiu por questões físicas. Da mesma forma, Pottker já podia ter saído no intervalo, ou mesmo começado no banco. Quando Wellington Silva terá oportunidade de um jogo inteiro? Enfim, são questões que poderiam já estar mais apuradas, a julgar que Odair está no cargo há 16 (dezesseis) meses e confia nos seus comandados, espera-se.

Ademais, e é aí que se justifica o título deste post, parece que efetivamente falta repertório ao treinador que, apesar de todo este tempo na regência, ainda não conseguiu fazer do Internacional um time que comanda o meio de campo durante a partida, propõe o jogo e busca o gol, como objeto fim. A todo tempo os jogadores de defesa são os destaques do time, porque sabemos muito mais nos defender do que atacar. Mas até quando conseguiremos assegurar vitórias por um gol, e na base de milagres do Lombo, imposição física do Moledo ou desarmes do Cuesta?

Por fim, bem-aventurado este que vos escreve por viver em uma democracia e poder, já na semana seguinte, se retratar. Como previsto, tomei pedradas por sugerir que Edenilson não estava jogando tudo o que podia. Merecidas! Quando ele não está em campo se vê o quanto faz falta. E quando está, olhando atentamente, se vê que taticamente é o que temos hoje de melhor.

Quisera seja Odair, também, um bem-aventurado como eu.

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