INDOLÊNCIA
Alguns meses antes de deixar, em definitivo, a repartição em Porto Alegre, chegou por lá o Humberto. Ele não viera para me substituir, mas talvez tenha o feito (ou tentado) quando saí. Era um sujeito pacato, que tinha estudado cartografia (ou algo assim) na faculdade, não falava muito não por ser tímido, que até não parecia ser: falar não era uma atividade de predileção na sua vida, em suma. Fumava em quantia, todavia. Aliás, fumava...
CONSAGRAÇÃO
Lá onde eu morava tinha uma escola onde todos estudavam. Era a única, também, naquela bucólica vila. Mas um vilarejo aquela altura do caminho, bastante próspero: uma empresa grande que empregava o povo, posto de combustível ainda que um ou outro tivesse carro e até farmácia. Havia também uma professora que se destacava: a Dona Wanda. Uma mulher pomposa, sempre muito bem vestida, cabelo imponente e sua maior glória que era saber...
CORAJOSOS
Uma das razões que me trouxe aqui foi o fato de estar me sentindo muito sozinho. Não falo tanto da vida em si – em que pese com a velhice vem a solidão, afinal, os nossos vão fazer as suas vidas e os velhos ficam de estorvo. Estava me sentindo sozinho como Colorado mesmo. Alguns muitos parceiros desta caminhada de alegrias, sofrimentos, gritaria e festança pelo Beira Rio, partiram; outros encontraram em outras coisas maior importância...
OS CHATOS
Fosse para um torcedor qualquer agir com a razão debaixo do braço, certamente esse indivíduo sequer mais assistiria ou pensaria em futebol. Futebol é feito de pitadas de loucura com doses generosas de falta de lucidez. Redundância? Pode até ser, mas isso é o que é o futebol e ponto final. As vezes mais, as vezes menos, mas sempre assim. Alguns definem como paixão, o que pra mim é outra coisa. Paixão pode ter loucura e falta de lucidez...
PROFISSÃO
Não sei dizer o que consta na carteira de trabalho dos jogadores de futebol, mas desconfio que seja algo tipo “atleta profissional”. Concluo assim pois algum tempo atrás estava no Tabelionato de Canoas e tinha um jogador do Internacional por lá, coincidentemente, e quando perguntado sua profissão, lascou o “atleta profissional”. Acho uma nomenclatura justa para aquele jogador que nasceu pra ser bancário, entrar alguns minutos. Talvez...