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Fiquei um tempo fora por absoluto desencanto como o Inter é conduzido. O encanto ainda não retornou mas a saudade de escrever sim. Retomo, timidamente, vendo o BV com diversas discussões internas e isso não é ruim: é sinal de vida ativa. Distinguir da passiva que é do tipo resignado.

É isso mesmo, gurizada: vamos brigar, hoje aqui amanhã no campo, em todos os dias contra seja lá o que for. “Corneta” é o termo apropriado: sejamos corneteiros, eternos insatisfeitos, marrentos, brigões como o Daison Pontes foi. Não conhecem? Sigam lendo – se isso for possível – que perto do final dou algumas breves pinceladas na folclórica história do Daison e de seus irmãos.

Ah! Se brigarem, briguem com moderação. No final do post uma música do Carequinha para lhes motivar.

Vamos ao post: Cristian deixou picando na risca da pequena área e aí está um blog do Inter sem o Inter como astro principal, ou ao menos, tratado muito en passant. O que vem na sequencia é algo como torcedor que vai ao estádio e dá as costas ao clube?

No caso do clube que torcemos esse “dar as costas” não é possível mas, se ocorresse, é por um lado, melhor do que “dar de ombros”, onde o que acontece tanto fez como tanto faz, e por outro lado os gestos de “largar de mão” podem ser entendidos como uma legítima defesa diante dos descalabros perpetrados e que seguem sendo cometidos. Não se pode “dar no pé” e deixar de torcer por esse time, mas há que se ter “aquilo roxo” para aguentar “no osso” algumas míseras vitórias “na unha”, e também derrotas de dar um “nó na garganta” ou um “aperto no peito”. Nada, mas nada mesmo de “tirar o fôlego”.

Comecei mal com esse texto visceralmente infame. Está mais para uma aula  de anatomia do que para um escrito de retorno.

Prometi ao meu santo padroeiro que não seria ácido e nem deprê e como promessa é dívida, mudo de assunto. Esse post trata de algo muito interessante, mas muito mesmo: EU!

Egocêntrico, megalômano, narcisista, autocentrado? Quem, eu? Pode ser…

Democraticamente aceitam-se críticas, pedradas, olhares enviesados, bocas entortadas, esgares (tirei essa do fundo do baú), enfim, tudo que possa manifestar desagrado pelo belo tema escolhido.

Quero dizer que escrever o que aparece abaixo me deu muito prazer e, mesmo que o raro leitor não possa compartilhar integralmente as alegrias dessas minhas lembranças requentadas, pense como é bom tratar de assuntos leves, agradáveis, que trazem felicidade. E se isso for de seu mundo, melhor ainda. Traga o seu antigo mundo à tona, reviva momentos, curta o passado, encurte o presente, corte o futuro.

Dito isso, vamos flanar. Entra aí vivente, te acomoda, aperta o cinto mas te segura bem. Vamos voltar para algum tempo no passado. O pelego voador não é muito manso…..

Nasci em Quatro Irmãos, hoje município, mas na época um distrito de Erechim, RS (Secco, vai me corrigindo, por favor).

Engrossei as pernas em Passo Fundo e de lá sai para Porto Alegre, aos 16 anos. Em Passo Fundo, desde que me conheço por gente se é que realmente tenho esse conhecimento, fui torcedor do 14 de Julho; na cidade tinham dois “grandes” – 14 e Gaúcho – e 2 médios –  Riograndense e Independente.

Por uma série de fatores o 14  de julho mudou de nome e foi substituído pelo “Passo Fundo”. Mas, quando ele existia havia entre o seu emblema e o do Inter uma semelhança que ia muito além da mera coincidência.

A imagem abaixo mostra os emblemas dos 2 times na época de 50. Nos cadernos de escola ficava horas desenhando esses emblemas e lembro que era muito fácil fazer os dois, pois com pequenas mudanças se tinha um ou outro.

Passo Fundo da praça com o Cuião do Prefeito, em que o prefeito de plantão passou e o cuião ficou para a história; da igreja inacabada como convém a todas elas (se acabar , termina o argumento da… deixa prá lá), dos dois cinemas, o café da esquina, as lojas de discos. Dos domingos pela manhã, onde depois da missa, as meninas faziam o “futing” de braços dados umas com as outras, rindo e olhando pelo canto dos olhos os meninos de carpim nos pés e gumex nos cabelos.

 

Tinha a Av Brasil (toda cidade tem uma, é como bunda, todos tem) e ali o altar da Pátria (uau!!! havia uma pira para se acender um foguinho em alguns momentos, baita piração). Na frente do altar ocorriam os comícios e uma noite fui  com meu pai assistir um com o Getúlio Vargas, vivo ainda! Para um lado da Avenida, se subia para o Boquerão e para o outro, a longa baixada até o rio Passo Fundo.

Na época o estádio do 14 ficava às margens do rio Passo Fundo (onde hoje está a  Rodoviária) e a meio caminho entre o centro da cidade e a “zona”. A casa mais famosa era a da “Carula” onde na fachada se lia: O sol nasce para todos. Aos 12, 13 anos um bando de homens (nos considerávamos isso) juntava as moedas e comprava um maço de cigarros que ficava sob os cuidados de meu primo mais velho: tinha 14 anos. No ônibus local que nos levava até a zona ele dava um cigarro para cada um dos que tinham contribuído  – se podia fumar nos ônibus – e depois dava outro na porta da casa da Carula, onde entravamos fumando pois segundo ele, homens fumam. Fomos para a “zona” muitas vezes: duas.

Não rolava sexo pois (a) era de tarde e as meninas estavam acordando (até hoje lembro com desprazer alguns hálitos) e (b) era muito caro e não tínhamos dinheiro para isso. Mas em compensação comíamos pipocas junto com as raparigas de vida fácil sem pagar nada, fumávamos o resto da carteira e pegávamos o ônibus de volta, sob os olhares invejosos do motorista que, pelos nossos comentários, devia imaginar como éramos ardentes e ousados. Ou ao menos: acreditávamos que ele pensasse isso pois era o que nós achávamos. Eramos os verdadeiros meninos da vida fácil.

No 14 de julho jogava um goleiro chamado Lara, sobrinho do Eurico Lara do Grêmio; havia um lateral esquerdo – Gradin – que era carteiro e fazia as entregas de bicicleta: eu imaginava que o seu bom preparo físico vinha daí. O Caico – meia  pela direita – era bancário no Banco do Brasil e o  Tubino – meia pela esquerda – era sargento do Exército.

Algumas vezes jogava o Pinga, que tinha sido zagueiro do Nacional de Porto Alegre. O Angelino, seu nome, pai do Pinga nosso zagueiro, chegava de avião no sábado à tarde – em um bom e confiável DC-3 – e eu ia com meu pai buscá-lo no campo de aviação com a pista de terra. A poeira que fazia quando chegava era uma loucura. O levávamos para o hotel e no domingo ele estava em campo, jogando pelo 14. Na segunda pela manhã meu pai o levava ao aeroporto para voltar a Porto Alegre.

Quem jogou no 14 foi o Vacaria, nosso lateral esquerdo e de lá vieram para o Inter os temíveis irmãos Pontes: João, Bibiano e Daison. Esse último conseguiu ser expulso mais de 20 vezes na sua carreira. Fazia de sua área a extensão de seu lar. Só entrava quem era convidado. Suas polêmicas entrevistas e a cara de mau, também faziam parte do repertório. Contribuiu para que Passo Fundo fosse reconhecida como “terra de machos” (deixei picando: aproveitem).

O futebol daquela época era alegre e espontâneo. Todos se divertiam, ganhassem ou perdessem. E havia coisas assim, como a descrita por um jornal da cidade após o clássico 14 de Julho X Gaúcho, em 1949:

*Logo após o segundo gol do Gaúcho o clima começou a esquentar. Foram vários lances duros até que a briga eclodiu com Camboim, do 14, e Souza Netto, do Gaúcho. Houve invasão de campo e um soldado da Brigada Militar bateu com a cinta em Dom Pedrito, deixando a marca da fivela nas costas do atacante do Gaúcho”.

O interessante é que a versão do Boletim de ocorrências que registrou esse entrevero diz que “os ânimos se acalmaram pela pronta e enérgica intervenção naquele momento da patrulha destacada para o serviço”.  Não fala da fivela do cinto.

Mas, se a batida realmente existiu, um fivelaço de brigadiano na paleta é o que se pode chamar de uma intervenção bem enérgica.

E o “Guaporé” falar “Vai pra puta que te pariu”? Que é isso? O certo é usar o “para” e não “pra”. Mas o pior é que nunca saberemos o que ocorreu com o desmoronamento de parte do corrimão.

Em futuro post prometi ao meu santo padroeiro não falar desse tal de “eu”. É que fui acometido por uma súbita nostalgia de mim mesmo. Fiquem tranquilos e podem acalmar os ânimos: o ataque já passou e não vai voltar (acho!).

E agora gurizada medonha, deixo com vocês Carequinha.

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